MERDA, perdi meu Chão.
Gostaria de ver àqueles, que
tanto pediram por esse momento, verdadeiramente alegres e com os corações
palpitante de emoção, comemorarem a vitória e principalmente, a
responsabilidade por sua contribuição.
Ai, talvez não fosse tão dolorido
esse momento, pois, quando as pessoas têm ideal, tem objetivos, metas que
acreditam poderem alcançar, ainda que opostos ao que eu acredito, poder-se-ia
esperar alguma coisa boa, qualquer coisa, pelas quais elas lutarão.
Mas não vejo nada, não há alegria
nesta vitória.
Há sim, um silencio sepulcral,
cheio de ódio, alimentado por um desejo incontido de vingança, que nesse
momento, lhes parece, se concretizou.
Hoje se concretiza o ápice de uma
longa campanha de destruição.
Existe sim, festa de comemoração,
mas não é uma festa para essa parte do povo que clamou por destruição.
A festa é de seus artífices,
deles para consigo próprios.
É a festa de uns poucos
privilegiados, que planejaram e ainda planejam mais destruição.
Estes sim, comemoram seu triunfo
em destruir conquistas, que trouxeram alegrias, que possibilitaram realização
de sonhos de tantos excluídos desse chão.
Comemoram entre si e tem o que
comemorar: se viram desalojados do poder por quase duas décadas e comemoram
vê-lo retornar as suas mãos à força de um golpe, dado com o consentimento de
boa parcela da população.
Estes sim, se reúnem e festejam a
ignorância dessa parcela de povo, que tão facilmente puderam manipular, fazendo
pulsar neles apenas ódio e desrazão.
Estes sim, acreditam agora, terão
de volta o poder de submeter todo um povo a seus desmandos e podem realizar
suas próprias ambições.
E agora? Estes que se deixaram ser usados, manipulados
não serão convidados à esta festa? Claro que não. Que aguardem do lado de fora as ordens, que
como lacaios, deverão cumprir.
Eles que se contentem com o
prazer, também momentâneo e fugaz de gritar:
Fora Democracia.
Fora Constituição e seus
princípios de igualdade, de dignidade e justiça.Traduzidos todos, em escolas sem
partido; intolerâncias; individualismo; discriminação a negros, pobres, LGTBS e
por aí vai...
Mas, tudo é momentâneo, tudo é
fugaz, e como tal, essa maioria ensandecida que lhes deu vitória, e que mesmo
hoje, já não a comemora, acordarão do surto de ódio injetados em suas mentes e
em seus corações.
Incrédulos e impotentes, talvez
descubram que afastaram de si, enquanto surtados, a alegria da participação, o
sonho de liberdade e se enclausuraram em egoísmo e solidão.
O que me alimenta, no entanto, é
a vontade de liberdade, de lutar por justiça e igualdade, que nunca será fugaz,
nem momentânea, e por isso trato de reencontrar meu chão.